Imagine uma vaga de anúncio com as seguintes exigências: “(…) cabelo longo e liso, bonita, magra, nariz fino, alta e de preferência com olhos claros”.
Esse anúncio é verdadeiro e causou polêmica em 2016 ao ser divulgado nas redes sociais para o recrutamento de promotoras de evento.
Por mais absurdo que isso possa parecer, o fato é que casos assim não são muito incomuns, mas, felizmente, a chamada gestão da diversidade vem na contramão para mudar a realidade das empresas, desde os seus processos de recrutamento e seleção até as suas próprias políticas e cultura no dia a dia corporativo, eliminando casos de preconceito e discriminação no ambiente de trabalho.
No post de hoje vamos entender melhor o que significa a gestão da diversidade na prática e como criar um ambiente onde as pessoas se sentem mais à vontade para trabalhar sem pré-julgamentos, tornando o dia a dia corporativo mais saudável.
Entendido que a gestão da diversidade é uma prática no mercado que se tornou fundamental para a evolução de uma empresa, vamos conversar hoje sobre os desafios, o que fazer na hora do recrutamento e como construir uma cultura interna consistente.
Se depois de ler você ficar com alguma dúvida sobre esse tema ou queira compartilhar a sua experiência conosco, deixe o seu comentário no final do post.
O conceito de gestão da diversidade nas empresas
Embora o conceito de gestão da diversidade tenha surgido nos anos 1990 nos Estados Unidos, desde o final da Segunda Guerra Mundial o debate sobre diversidade já existia por conta de quatro grandes movimentos sociais:
- a mistura demográfica ocasionada pela globalização e pelos movimentos migratórios;
- a presença das mulheres no mercado de trabalho;
- várias gerações coexistindo por conta do aumento da expectativa de vida;
- e o surgimento de uma cultura mais liberal e tolerante.
Essas discussões também serviram de base para se evidenciar um universo corporativo marcado por grandes questões relacionadas ao mercado de trabalho, tais como:
- discriminações sociais ao acesso ao emprego;
- divisão sexual do trabalho e representatividade baixa da mulher entre os cargos de liderança;
- conflitos interculturais;
- dificuldades de inserção dos jovens no mercado de trabalho;
- afastamento dos funcionários com mais de 50 anos de idade do mercado de trabalho;
- dificuldades de inserção de pessoas com deficiência física, mental ou intelectual no mercado de trabalho.
A gestão da diversidade surgiu, então, em meio a esse debate e consiste em uma prática gerencial da administração de recursos humanos desde a década de 1990.
É considerada uma ferramenta fundamental para a gestão de empresas que buscam na diversidade de colaboradores a sua vantagem competitiva ao captar profissionais de diferentes formações e experiências independentemente de suas diferenças culturais, de gênero ou de qualquer outro tipo.
A diversidade também pode se aplicar a:
- diferença de pensamentos;
- diferentes pontos de vista, ideias e opiniões;
- diferenças nos hábitos, nas crenças e nos valores;
- diversidade cultural, comportamental, de gênero e de gerações.
Nesse sentido, existem várias vantagens para as empresas que implantam a gestão da diversidade, tais como:
- reduz problemas jurídicos, exposição negativa e reivindicação diante do risco de preconceito e discriminação;
- constrói ambientes organizacionais mais ricos, representativos e estimulantes;
- mobiliza e capitaliza forças criativas por conta da maior riqueza de análise de colaboradores multiculturais;
- constrói abertura para uma sociedade e uma economia mais globalizadas;
- responde aos questionamentos éticos e morais em torno da igualdade de oportunidades e direitos;
- a empresa apresenta um grande potencial de inovação, de performance e criatividade por conta da diversidade de ideais, pensamentos e culturas.
Os desafios da gestão da diversidade na empresa
Apesar de ser uma prática bem fundamentada e que pode trazer ótimos resultados para a empresa, os líderes e gestores precisam ter em mente que existem desafios a serem alvos de reflexão para serem enfrentados até a consolidação efetiva dessa forma de gestão.
Em primeiro lugar, a gestão da diversidade pode gerar a tensão universalidade x diversidade, visto que é preciso equilibrar a diversidade de pessoas e suas especificidades a uma adaptação em um ambiente corporativo que caminha para objetivos em comum.
Outro desafio está na igualdade x diversidade; é preciso equilibrar e definir como a busca da igualdade pode se desenvolver na empresa sem gerar desigualdade nas organizações, além de descobrir qual é o impacto dessa busca na gestão empresarial.
Um terceiro desafio é a diversidade x desempenho; afinal de contas, como a gestão de pessoas portadoras de diferentes habilidades e representações pode ser uma fonte de desempenho ou, pelo contrário, pode gerar dificuldades. O desafio aqui é extrair o melhor das diferenças sem que o grupo de colaboradores perca sua consistência interna.
Outro desafio, que engloba os outros três acima citados, é o da comunicação. Essa é uma tarefa que exigirá constantemente da liderança, pois é preciso desenvolver a capacidade de compartilhar a estratégia por meio de uma visão sistêmica e de uma leitura de ambiente, sem falar na flexibilidade e no feedback que deve ser dado com maestria.
A gestão da diversidade na hora do recrutamento
Como você pode perceber, a gestão da diversidade gera uma grande reflexão e vários cuidados, ainda mais em tempos tão sensíveis e que geram discussões que podem ter consequências tanto positivas quanto bem negativas para as empresas.
Nesse caso, como realizar um recrutamento de colaboradores levando em consideração essa forma de gestão?
Em primeiro lugar, a própria empresa precisa ter como base o respeito à identidade cultural, de gênero e à individualidade de cada pessoa antes de contratar novos colaboradores.
Essa diversidade deve estar bem visível para os candidatos durante o processo de recrutamento e seleção, para que eles se identifiquem com o ambiente de trabalho.
Aqui cabe um alerta: é importante sempre se lembrar de que a empresa precisa – e deve – contratar profissionais de acordo com suas qualificações e competências, e não por escolhas pessoais ou apenas para se fazer de “empresa que leva a gestão da diversidade em prática”.
Em outras palavras, o importante aqui é não ter preconceitos e pré-julgamentos no processo seletivo. É preciso aceitar os currículos que se encaixem na vaga ofertada e, dessa forma, escolher de acordo com o que a empresa precisa.
Porém, contratar a diversidade não é o suficiente: a empresa precisa ter uma verdadeira cultura inclusiva para não perder bons colaboradores. Desse modo, já com a cultura em vigor, o novo profissional será recebido e acolhido pelos colegas e pela liderança.
Dicas para colocar a gestão da diversidade em prática
1. Analise a cultura organizacional da empresa
A cultura da sua empresa promove inclusão? Se não promove, o que pode ser feito para que isso seja mudado? Reflita sobre as ações comuns que podem dividir a força de trabalho e fazer com que determinados grupos se sintam indesejáveis ou deslocados do ambiente de trabalho.
Uma boa dica é realizar pesquisas de clima organizacional para que você consiga avaliar como os colaboradores se sentem sobre a cultura da empresa, além de descobrir problemas e questões que possam provocar conflitos e até mesmo a saída de bons colaboradores.
2. Repense as políticas da empresa
Uma dica é incluir itens sobre a gestão da diversidade e as consequências da discriminação no ambiente de trabalho, além de um Código de Conduta. Deixe bem claro que esse tipo de conduta é crime e a empresa não tolera brincadeiras ou comportamentos preconceituosos. Além disso, a empresa precisa incentivar que práticas dessa natureza sejam denunciadas à liderança, que deverá tomar as providências.
Uma boa política empresarial também deve garantir igualdade nos direitos, na contratação, no pagamento de acordo com o setor e nas políticas de incentivo e desenvolvimento. Portanto, promoções devem ser baseadas no desempenho do colaborador, e não em questões pessoais.
Também fique atento e atualizado em relação a leis e projetos sobre temas em relação a igualdade de direito, sempre verificando se as políticas e o posicionamento da empresa estão alinhados.
Um lembrete importante: a cultura de trabalho também precisa ser alinhada nos níveis superiores da empresa, dos gestores, aos diretores e a presidência. Sem isso, as chances de manter uma diversidade de forma geral diminuem – e o índice de retenção de talentos também.
3. Mensure e reflita sobre a sua empresa
Meça a diversidade da sua empresa e reflita de forma objetiva. Há uma boa representatividade de opiniões, culturas, gêneros, etc.? Quais ações são necessárias para aprimorar o time de colaboradores? Existe algum grupo que está sendo desfavorecido na equipe?
Um exemplo de empresa que vem mudando suas estratégias a favor da diversidade é a multinacional KPMG. Conforme divulgado recentemente pelo site do Grupo Santander, a empresa criou o chamado Grupo KNOW no Brasil, que tem como objetivo alinhar as demandas do Plano Estratégico com as necessidades das profissionais mulheres que trabalham na organização.
A iniciativa promove encontros, workshops, mentoring e programas de apoio à maternidade e a discussão de formas de favorecer o crescimento feminino dentro da empresa e também no mercado de trabalho de todo o país.
Nesse Grupo, os funcionários homens são chamados para participar do planejamento e da execução de projetos para absorverem o conteúdo e repassarem de maneira correta para o restante da equipe, com o objetivo de estimular a conscientização sobre o tema e o engajamento de todos os colaboradores.
Portanto, comece repensando sobre as atividades desempenhadas pelos seus colaboradores. Eles têm as ferramentas certas de trabalho? Estão conseguindo trabalhar de forma produtiva? Existem alguns impedimentos para isso? Algum grupo está se sentindo desmotivado? Existem chances de crescimento iguais dentro da empresa, independentemente do gênero ou de qualquer outra diferença?
4. Cuidado na hora de contratar os colaboradores
É preciso reforçar mais uma vez: o processo de contratação deve ser feito pelas qualificações da pessoa, e não pelo seu modo de ser somente para a empresa ser vista como diversificada.
Além disso, temos a tendência de escolher candidatos que se pareçam mais com o nosso modo de agir. Dessa forma, uma dica é fazer as mesmas perguntas base para todos os candidatos, sem benefícios e vantagens a ninguém.
Certamente você pode ter dificuldades na hora de encontrar pessoas de diferentes experiências e origens para determinados departamentos da sua empresa; nesse caso, mantenha a persistência e continue na busca.
Afinal, o conceito de gestão da diversidade é justamente esse: são pessoas diferentes, mas igualmente qualificadas que tornam o ambiente de trabalho diversificado de forma natural.
Outra dica na hora do recrutamento é ampliar a área geográfica dos candidatos, pois dessa forma você pode alcançar mais colaboradores com perfis e experiências diversas para integrarem o seu time.
5. Tenha uma comunicação interna alinhada
Os colaboradores e gestores precisam ter uma comunicação bem alinhada sobre o valor da diversidade e a importância do respeito e do não favoritismo. Somente dessa forma consegue-se mudar pensamentos e pré-julgamentos no ambiente empresarial.
Uma dica é investir em treinamentos que estimulem a sensibilidade da equipe, abordando temas como preconceito, a importância da diversidade, atitudes consideradas ofensivas, etc.
Aliás, sobre o tema comunicação interna, temos um post descrevendo 5 erros que podem causar grandes prejuízos na empresa.
6. Trabalhe na retenção de talentos
Muitas empresas acreditam serem capazes de atrair um conjunto diversificado de candidatos, mas com o tempo, a cultura organizacional e política empresarial que não coloca a diversidade em prática resulta em uma maior taxa de rotatividade de determinados grupos.
Nesse sentido, concentre-se na retenção de talentos colocando em prática as dicas anteriores: repensando a rotina de trabalho da equipe, reorganizando a cultura organizacional e a política empresarial, construindo um recrutamento e uma comunicação interna alinhados a essa cultura e sempre promovendo a integração entre toda equipe por meio de treinamentos e outras ferramentas – isso garante, a todos, iguais chances de crescimento e amadurecimento profissional.
Implantar a gestão da diversidade no ambiente empresarial é verdadeiramente um desafio, mas que vale a pena o investimento.
Em um mundo cada vez mais globalizado, é fundamental que as empresas consigam inovar em seus produtos e serviços pensando na pluralidade de clientes que, mesmo dentro de um mesmo nicho, apresentam diferentes opiniões e experiências de vida. Portanto, pluralidade de colaboradores produzem ideias inovadoras para uma pluralidade de clientes.
Para finalizar, separamos um post que explica a importância de você, como líder do seu negócio, aprimorar seus conhecimentos em gestão para entender melhor sobre a pluralidade de talentos e como aumentar os índices de retenção em sua empresa.
Caso queira dividir a sua experiência sobre a gestão da diversidade em seu ambiente de trabalho, deixe o seu comentário logo abaixo.