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Norma ISO para Gestão da Inovação – Precisamos mesmo de uma?

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Norma ISO para Gestão da Inovação – Precisamos mesmo de uma?

A resposta mais direta para a questão: “existe a necessidade de uma norma ISO para Gestão da Inovação”, pode ser NÃO… e SIM. A necessidade de uma norma ISO para definir como a gestão da inovação deve ser realizada pelas organizações depende de muitos fatores.

Neste artigo vou explorar alguns deles e como a norma ISO 56.002 pode ajudar você e sua empresa a decidir se existem benefícios em utilizar esse guia para realizar a gestão da inovação na sua organização. Em seguida vamos abordar alguns pontos importantes da norma para você iniciar a implantação dela na sua empresa.

Como uma norma que padroniza pode levar a algo inovador (não padronizado)?

Para alguns a resposta para esta pergunta pode ser óbvia, mas às vezes o “óbvio” precisa ser dito. As inovações que surgem, principalmente as radicais, nunca serão algo padrão, pois devem fugir às regras vigentes ou aos nossos pressupostos, contudo a forma como chegamos a esta inovação pode ser otimizada e por esta razão é preciso ter um método ou um modelo que nos ajude a otimizar o processo de inovação.

A gestão da inovação é um método para ajudar na inovação e não a inovação em si. Benckmarking, MVP, Lean Startup, pesquisa de mercado, Design Thinking, entre outras, são todos métodos ou ferramentas que podem ser utilizados para a inovação e funcionam de maneira diferente em contextos diversos.

A ISO 56.002 é um guia, ou seja, é um dos métodos que pode ajudar as empresas a inovar e nunca deve ser entendido como a inovação em si. A inovação sempre deve ser diferente, inovadora, mas o processo de inovação e a gestão deste processo podem e devem ser otimizados, e esta é a razão para utilizar alguma ferramenta que nos ajude a gerenciar o sistema de inovação de nossa organização.

Norma e Guia

O primeiro tema que devemos esclarecer é que a ISO 56.002, e outras que apresentam o título de guia (guidance), não apresenta requisitos como as normas que são oferecidas para certificação, como por exemplo a ISO 9.001 ou a ISO 14.001.

Esta diferença é importante pois as normas definidas como guias devem ser adotadas de maneira voluntária, e deve existir uma motivação mais forte do que a certificação, como por exemplo: “Porque a organização acredita que a implementação daquela norma irá lhe trazer benefícios”.

Para boa parte dos empreendedores e gestores está claro que inovação é importante, talvez faltasse apenas uma norma ou guia que pudesse lhes colocar no caminho da inovação de maneira mais familiar.

Por que só agora uma norma para gestão da inovação?

Em algumas empresas, países e sociedades, inovação já é um tema antigo, então por que lançar a norma ISO 56.002 para gestão da inovação apenas agora?

Como dito, muitas empresas, governos e instituições já inovam a muito tempo, porém a consolidação de um processo de gestão de inovação não é algo simples e demanda validação de diferentes formas, tanto teórica quanto prática.

Para garantir que está se oferecendo o melhor guia para que as organizações possam gerenciar seu processo de inovação é preciso amadurecer as teorias, desenvolver modelos (frameworks), aplicá-los na prática e avaliar os resultados.

Este processo de elaboração, teste e validação pode ser um tanto longo, e não foi diferente com a gestão da inovação. Desta forma, uma das razões para a ISO 56.002 ser lançada apenas agora, ocorre em função do nível de maturidade dos modelos de gestão da inovação já estarem consolidados.

O que não impede que outros modelos, tão eficientes quanto este, como inclusive citado pela ISO 56.002, possam ser utilizados pelas empresas que desejam colocar um pé neste terreno. Contudo a ISO 56.002 pode ser um bom começo antes de experimentar com outros modelos menos consolidados.

Como gerenciar o ecossistema de inovação?

Eu já abordei em outro artigo os ecossistemas de inovação e recomendo que você leia ele antes de continuar a leitura.

Os ecossistemas de inovação, embora existam a algum tempo, como pode-se comprovar pelo próprio Vale do Silício e outras iniciativas como esta, muito pouco se compreende sobre eles.

Para se ter ideia, existem críticas até ao fato dos ecossistemas de inovação serem chamados de “eco”, pois se eles são sistemas ecológicos tendem ao equilíbrio, o que não é o objetivo desejável quando falamos de inovação.

Para que o sistema se mantenha em mudança e melhoria devem ser constantemente criados e modificados, o que os torna sistemas artificiais e não ecológicos.

Esta breve discussão é apenas para demonstrar a falta de consolidação do tema, o que indica que qualquer tentativa de gerar uma norma ou modelo de gestão para os “ecossistemas de inovação” tem grandes chances de ser alvo de críticas e falhar.

Isso não ocorre com a gestão da inovação interna das empresas e que é tema da ISO 56.002. Como toda a gestão e o controle do processo fica com a organização, e o modelo já está consolidado, fica mais simples de agregar todas as sugestões de como a organização deve realizar a gestão da inovação em um único documento sem gerar dúvidas ou debates sobre o tema.

Agora que esclarecemos alguns pontos, vamos detalhar porque você e sua empresa precisam ou não de uma norma para a gestão da inovação.

NÃO, você não precisa de uma norma para gestão da inovação

Tente responder estas questões:

  1. Sua empresa lança novos produtos ou serviços melhores regularmente?
  2. Sua empresa implementa novos processos regularmente, usando menos matéria-prima, produzindo mais peças por minuto, com menor custo por unidade?
  3. 80% das vendas de produtos da sua empresa são de itens lançados nos últimos 5 anos?
  4. Seus projetos possuem níveis variados de risco, e alguns apresentam alto risco?
  5. Você deposita patentes regularmente?
  6. Você está à frente dos concorrentes, possui maior fatia de mercado (Marketshare) e maior qualidade nos seus produtos/serviços?

Eu poderia estender esta lista, mas acho que você já compreendeu a ideia. Se você respondeu SIM para todas estas perguntas, então provavelmente você NÃO precisa implementar a norma ISO 56.002. Você já deve ter um sistema de gestão da inovação que está funcionando muito bem, as inovações estão surgindo e sua empresa consegue se beneficiar delas, o que não quer dizer que este processo não possa ser melhorado, mas nós vamos falar sobre essas melhorias mais adiante.

SIM, você precisa de uma norma para gestão da inovação

Acho que não preciso repetir a lista de questões acima, mas se você respondeu NÃO para a maioria delas, então SIM, você deve pensar em implementar a ISO 56.002 em sua organização.

Algumas alternativas do que pode estar acontecendo no seu mercado é o baixo volume de vendas ou a diminuição do faturamento. A dificuldade em concorrer com outros países, principalmente quando sua competição é por preço. Dificuldade em criar e conduzir projetos de inovação, fazendo com que se gaste muito, se perca tempo e não se alcance os resultados esperados para os projetos de inovação (custo, tempo e escopo).

O que ocorre não é que sua empresa não tenha potencial de ser inovadora, ou a indústria onde sua empresa atua seja de baixa tecnologia (desculpa comum de muitos empresários e gestores), mas o fato de que você não tem um processo que garante a gestão da inovação de maneira adequada e com foco nos resultados e no sucesso.

Antes de falarmos em como mudar esta situação, vamos entender os benefícios de uma boa gestão da inovação para a sua organização e se você concordar que também quer ter estes benefícios, então poderemos passar para a implementação.

Quais os benefícios da ISO 56.002?

A ISO 56.002 tem como benefício lhe ajudar a fazer a gestão da inovação na sua empresa. Mas lembre que o real benefício está na própria inovação e no resultado que ela traz para a sua empresa, como:

  1. Aumentar sua habilidade de lidar com incertezas;
  2. Aumentar seu crescimento, faturamento, lucro e competitividade;
  3. Reduzir custos e desperdícios, aumentar a produtividade e a eficiência dos recursos;
  4. Aumentar a sustentabilidade da organização e sua resiliência;
  5. Aumentar a satisfação dos usuários, clientes, cidadãos e outras partes interessadas;
  6. Renovação sustentável do portfólio de produtos e serviços;
  7. Engajar e empoderar as pessoas na organização;
  8. Aumentar o potencial de atrair parceiros, colaboradores e dinheiro;
  9. Aumentar a reputação e o valor de mercado da organização;
  10. Facilitar o compliance com regulamentações e outros requisitos relevantes.

Estes são todos os benefícios citados pela norma, mas eu gostaria de reforçar alguns deles. Aumentar faturamento e lucro, qual organização não quer ter este benefício? Aumentar a satisfação do cliente permite atrair mais clientes e aumentar a fatia de mercado, sua empresa está satisfeita com o tamanho do seu mercado, até quando? Atrair dinheiro, existem muitas linhas de financiamento, inclusive de subvenção (dinheiro do governo a fundo perdido), mas apenas para empresas que investem em inovação, quem quer esse dinheiro?

Podemos observar que dentro destes benefícios também existem oportunidades, que estão sendo perdidas por muitas empresas pelo simples fato delas não estarem preparadas para colher essas oportunidades.

Espero que você não queira mais perder essas oportunidades e que tenhamos superado as dúvidas sobre os benefícios da inovação para a sua empresa. Acredito que você tenha decidido por implementar a gestão da inovação na sua organização, e caso tenha decidido pela ISO 56.002, vamos falar um pouco sobre ela.

Como a ISO 56.002 pode ajudar a implementar ou melhorar a gestão da inovação?

A ISO 56.002 apresenta um modelo (framework) de como sua organização pode conduzir o processo de gestão da inovação internamente. Para que isso seja possível, é preciso haver um ambiente ou contexto propício para a inovação.

A gestão da inovação não começa com um idealizador solitário, a gestão da inovação começa com a liderança, que deve estar comprometida com o processo e com a inovação. Cabe às lideranças, em especial a alta gestão da organização, promover capacidades e competências para a inovação e assim fomentar uma cultura que dê suporte as atividades inovadoras.

Assim que este suporte das lideranças for alcançado, boa parte do que precisa ser feito envolve planejamento, implementação, monitoramento e melhorias, que na norma ISO 56.002 é abordado através do processo PDCA (Plan-Do-Check-Act).

Este ciclo PDCA não é possível sem os recursos, mas não qualquer recurso, e sim os recursos que podem contribuir para a gestão da inovação e posteriormente para a inovação em si. A Figura 1 detalha o sistema de inovação e suas partes relevantes dentro da norma ISO 56.002.

O modelo apresentado engloba toda a gestão da inovação. Já a inovação em si ocorre nas operações que levam aos projetos de inovação, desde as intenções até o valor gerado pela inovação.

 

Figura 1 – Modelo do sistema de gestão da inovação segundo a norma ISO 56.002

Fonte: (International Organization for Standardization, 2019)

 

Sua empresa está preparada para a ISO 56.002 ou outra ferramenta de gestão da inovação?

O modelo apresentado na Figura 1 é uma visão geral da ISO 56.002, para dar o primeiro passo nesta direção, minha recomendação é que você avalie estas questões:

  1. A liderança, em especial a alta gestão, apoia, dá suporte, cede recursos, auxilia ou entende que é preciso fazer uma melhor gestão da inovação na empresa?
  2. Eles estão dispostos a investir dinheiro, tempo e recursos (humanos e físicos) na gestão da inovação?

Se a resposta para estas duas perguntas foi SIM, então sua empresa está preparada para dar o próximo passo, então leia a norma e busque ajuda.

O que mais devo saber?

Além da ISO 56.002, outras normas podem complementar a implementação desta, abaixo seguem algumas delas:

  1. ISO 56.001 – Gestão da Inovação — Fundamentos e vocabulário, proporciona o suporte para o correto entendimento e implementação da ISO 56.002;
  2. ISO TR 56004 – Avaliação da Gestão da Inovação — Guia, proporciona um guia para o planejamento, implementação e monitoramento da avaliação do sistema de gestão da inovação;
  3. ISO 56003 Gestão da Inovação – Ferramentas e métodos para parcerias para inovação – Guia.

Importante destacar que todas estas normas ainda se encontram no idioma inglês.

Considerações finais

O processo de implementação da Gestão da Inovação em uma organização não é simples, exige dedicação, disponibilidade e uma forte motivação. Esta não é uma tarefa para uma única pessoa ou setor. Toda a organização e todos os setores devem estar envolvidos e compreender a importância de um sistema de gestão da inovação para a empresa e para os funcionários, que estão intimamente conectados ao sucesso da empresa.

O apoio de todos e um entendimento claro de que a inovação, e consequentemente a mudança, é benéfica para todos é importante, caso contrário as chances de fracasso aumentam.

A implementação da gestão da inovação também não é um processo rápido, ela leva tempo, demanda que a cultura da organização vá aos poucos se modificando para aceitar o novo modelo de organização, contudo, se a empresa não começar esta mudança, nunca vai se tornar mais inovadora.

Agora me diga nos comentários, sua empresa já possui um sistema de gestão da inovação? Esse sistema pode melhorar?

 

Referências:

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 56002 – Innovation management – Innovation management system – Guidance, 2019.

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Sou doutor em Administração pela UNISINOS, mestre em Administração pela UNISINOS e graduado em Administração de Empresas, na linha de formação Empreendedorismo e Inovação. Atualmente, atuo como professor, pesquisador e consultor e tenho amplo conhecimento em ecossistemas de inovação, gestão de projetos, análise de mercado, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Meu conhecimento aborda principalmente práticas para solução de problemas por meio do método científico.