Crowdsourcing: O que é e como utilizar a favor da empresa?

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Crowdsourcing

Quando se fala em “crowdsourcing”, geralmente acontece uma confusão com o termo “crowdfunding”.

O crowdfunding se refere ao financiamento coletivo, ou seja, à obtenção de capital para projetos e iniciativas de interesse coletivo.

O crowdsourcing pode ser entendido como um processo para encontrar fornecedores que solucionem um determinado problema ou desafio empresarial.

E o mais interessante é que esses fornecedores tanto podem ser outros profissionais quanto o próprio público consumidor do produto ou serviço, gerando uma verdadeira teia de colaboração.

Não é à toa que muitas empresas já utilizam o crowdsourcing em seu ambiente corporativo – das gigantes como Netflix e Google até empresas locais que precisam de um logotipo, por exemplo – e todas acabam tendo uma grande vantagem competitiva por agregar uma rede de colaboradores e o consequente aumento do engajamento e da fidelização.

No post de hoje, você vai descobrir como criar essa cultura dentro de seu empreendimento, alguns cases de sucesso de empresas conhecidas e, também, conferir dicas de plataformas para encontrar colaboradores para o seu negócio. Acompanhe.

O que é crowdsourcing?

“Crowdsourcing” foi citado pela primeira vez em 2006, pelos editores da revista norte-americana Wired, Mark Robinson e Jeff Howe, que uniram as palavras crowd (multidão) e outsourcing (terceirização). Eles se referiam a um novo conceito de interação social, baseado na construção coletiva de soluções com benefícios para todos os envolvidos.

Apesar de esse termo ter nascido nos anos 2000, o mundo já utilizava a ideia de crowdsourcing muito antes de surgirem os computadores.

Para se ter uma ideia, ainda no século XVIII, por exemplo, o governo britânico resolveu lançar um prêmio de 20 mil libras, chamado Longitude Prize, pagos a qualquer pessoa que conseguisse resolver uma questão: criar um sistema preciso de cálculo da longitude dos navios em alto-mar, pois o fluxo de cargas atingira seu ápice e começava a trazer problemas para a economia. Foi quando John Harrison, um simples relojoeiro inglês, apresentou o relógio marítimo, que conseguia resolver de vez esse problema, e acabou vencendo.

Hoje, o significado de crowdsourcing continua fazendo o mesmo sentido dos tempos antigos: pessoas se unem para resolver problemas em conjunto, seja criando novos produtos, conteúdos, soluções e outras ferramentas.

Sabe aquelas campanhas comumente lançadas por jornais para premiar um designer ao criar um logotipo de aniversário da marca? É crowdsourcing. E aquela multinacional que costuma procurar desenvolvedores fora de sua sede para resolverem alguns problemas de bugs e algoritmos? É crowdsourcing.

A campanha da Coca-Cola que fez um comercial com vídeos caseiros enviados pelos consumidores? Também é crowdsourcing.

As áreas dentro das empresas que mais se utilizam do crowdsourcing são as de Desenvolvimento de Produtos (feedback de usabilidade); TI (programação e avaliação de softwares); e Marketing e Vendas (branding), mas todos os departamentos podem construir uma identidade por meio de múltiplas vozes e, também, de seus consumidores.

As vantagens do crowdsourcing para empresas

Todas as empresas, de qualquer porte e segmento, podem se beneficiar do crowdsourcing para a geração de ideias e a solução de problemas e desafios. A seguir, listamos algumas das principais vantagens:

  • Possibilidade de ter ideias novas e diferentes, além de inovação permanente, vindas de fora da empresa.
  • Auxilia os gestores na solução de questões internas e externas, que antes só poderiam ser resolvidas com terceirizações de custo muito elevado. Nesse sentido, o crowdsourcing traz novos conhecimentos a baixo ou até nenhum custo.
  • O crowdsourcing ajuda a engajar e a fidelizar um grupo de clientes. Por exemplo: muitas empresas usam estratégias de trabalho colaborativo para divulgar seus lançamentos em primeira mão a um grupo fiel de clientes. Assim, eles opinam e avaliam o produto, e se sentem parte do projeto. Um exemplo são os chamados testadores beta (ou beta testers), que recebem programas e softwares para testar antes do lançamento oficial.
  • Possibilita a resolução de problemas ou a obtenção de serviços praticamente 24 horas por dia.

Atualmente, muitas empresas têm aderido a comunidades (em sites específicos) que concentram profissionais de diversas áreas. Dessa forma, elas anunciam o que precisam e os profissionais podem oferecer seus serviços, sendo que a empresa escolhe o projeto que melhor se encaixa em suas necessidades, comprando seu produto ou serviço diretamente na plataforma.

Cases de sucesso

Para você ter uma ideia da força do crowdsourcing ao redor do mundo, separamos alguns cases de sucesso de empresas bem conhecidas no mercado interno e externo:

# Netflix

A plataforma de streaming de vídeos mais utilizada atualmente se beneficia do crowdsourcing. Em 2012, por exemplo, a empresa lançou um desafio ao público: quem desenvolvesse um algoritmo 10% melhor na sugestão de filmes, levaria um prêmio de US$ 1 milhão. Apesar de nunca ter utilizado a ideia vencedora, ela atingiu seu objetivo ao captar ideias que melhorassem seu desempenho na rede – isso sem falar em toda a publicidade em torno do projeto.

# Azul

Em 2008, a companhia aérea brasileira lançou um desafio ao público: escolher o próprio nome, e a pessoa que sugerisse o mais votado, ganharia bilhetes vitalícios. A partir daí, nasceu a Azul Linhas Aéreas Brasileiras. Assim como no case da Netflix, a companhia acabou não escolhendo o nome mais votado durante os 30 dias da campanha “Você Escolhe”, que, no caso, era “Samba”, mas optou pelo nome que ficou em segundo lugar, resultando na entrega da premiação a duas pessoas.

# Google

Em 2009, a empresa promoveu um concurso de vídeos com a finalidade de apresentar ao mercado o Google Chrome no Brasil, que teve um enorme sucesso e chamou a atenção para o lançamento do produto. Já em 2016, a empresa lançou o aplicativo Crowdsource, em que os usuários podem colaborar realizando pequenas tarefas para melhorar as funcionalidades de alguns de seus aplicativos, como o Google Tradutor e o Google Maps, por exemplo, como o reconhecimento de escrita, a validação de traduções, a verificação precisa de mapas e a transcrição de imagens.

# Coca-Cola

A empresa há tempos realiza ações de crowdsourcing como estratégia de posicionamento de marca. Um exemplo bem marcante foi a campanha “Open Happiness” que, a princípio, foi testada na Universidade Federal de Cingapura. Ao abraçar uma máquina de refrigerante, chamada de HugMe Machine, os universitários ganhavam uma lata da bebida (veja o vídeo). Na época causou tanto alvoroço que a campanha acabou sendo replicada em outros países.

# Waze

O aplicativo Waze, já considerado como uma ferramenta essencial para quem dirige por grandes centros urbanos, é um dos exemplos mais difundidos de crowdsourcing. Nele, os próprios usuários ajudam em sua atualização, podendo informar, por exemplo, as melhores rotas para quem deseja se deslocar de um ponto a outro da cidade. Os usuários também podem notificar o que está acontecendo em tempo real, alertando sobre engarrafamentos, reparos na pista e acidentes, por exemplo, ajudando outros motoristas a encontrarem uma nova rota.

# Unilever

A gigante global na venda de bens de consumo costuma, de tempos em tempos, lançar desafios para pessoas interessadas em contribuir com alguns projetos, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade, criação de novos produtos, redução dos níveis de sódio em alimentos e combate a vírus.

# Nasa

A estação espacial americana também se rendeu ao crowdsourcing e, em 2015, lançou o Open Innovation Service (NOIS), que visa encontrar soluções para alguns de seus principais desafios, como a busca por novos algoritmos para melhorar o uso de ferramentas de seus robôs e o desenvolvimento de melhores tecidos para roupas espaciais, além de outras tecnologias úteis para suas missões extraterrenas.

Como implantar a cultura do crowdsourcing no ambiente corporativo?

Por oferecer uma grande vantagem competitiva e a possibilidade de crescer com inovação, a cultura do crowdsourcing pode ser desenvolvida dentro da empresa, na própria rotina de trabalho entre os colaboradores.

Em geral, existem três passos para esse desenvolvimento “de dentro para fora”:

  • Passo 1: compreender o significado do “Quem somos” como empresa, ou seja, saber exatamente qual é o seu papel para que, dessa forma, se crie uma cultura organizacional para favorecer a colaboração.
  • Passo 2: diagnóstico das áreas da empresa que precisam de uma construção coletiva. Por exemplo: os softwares realmente são úteis e práticos? A campanha de marketing está surtindo efeito? A empresa precisa de uma consultoria jurídica pontual?
  • Passo 3: levantamento feito, é hora de partir para a busca de colaboradores que ajudem a solucionar os problemas e desafios. Uma dica é criar anúncios em plataformas de crowdsourcing especializadas na resolução do problema específico (marketing, vendas, TI, jurídico, etc.).

Alguns exemplos de plataformas de crowdsourcing bastante utilizadas atualmente são:

  • Crowdtest: os cadastrados podem testar seus aplicativos e softwares antes de lançá-los ao mercado.
  • Creative Commons: site que busca arquivos licenciados para compartilhamento de conteúdo, tanto jornalístico quanto de fotos e vídeos, de forma gratuita.
  • OpenIDEO: comunidade (em inglês) criada para a solução de problemas empresariais ou geração de insights.
  • uTest: comunidade online para testes de softwares (em inglês).
  • Kaxola: plataforma de crowdsourcing que ajuda na divulgação de ideias e projetos, sendo uma ótima fonte para empreendedores pesquisarem por inovação.
  • WeDoLogos: empresas podem contratar designers freelancers para a criação de sua identidade visual e demais projetos na área.

Outras ações também podem ser adotadas no ambiente corporativo para a disseminação da cultura de colaboração, tais como:

Deixar o caminho aberto para a criação de novas ideias

Ao contrário da tradição em algumas empresas de ouvir opiniões apenas de determinados profissionais, as marcas que, atualmente, têm maior sucesso fazem exatamente o contrário: elas escutam seu público e ficam atentas ao que seus próprios colaboradores pensam. Nesse sentido, qualquer pessoa que tenha uma ideia inovadora pode colaborar com a empresa, ajudando em seu crescimento.

Não menosprezar a ideia dos outros

Se você achar que uma ideia apresentada pode não ser boa o suficiente, é preciso ter cuidado para não menosprezá-la ou julgá-la de forma rigorosa, pois isso pode acabar tirando a vontade de alguém em colaborar. Nesse caso, você deve argumentar sobre os motivos pelos quais a ideia não daria certo ou o que falta para que ela funcione corretamente, sempre no sentido de encorajar o colaborador a continuar proativo.

Criar a cultura de feedbacks internos

Os empreendedores sabem o quão importante é um feedback construtivo para sua empresa e, também, para a vida de seus colaboradores. Afinal, o sucesso pessoal e profissional de receber algum retorno sobre o trabalho é algo totalmente relacionado ao sistema de crowdsourcing.

Empresas que têm essa cultura de feedback, além de corrigir alguns problemas e posturas, também diminuem as “conversas de corredor”, gerando mais proatividade na busca por melhores resultados.

Fazer reuniões de brainstorm

Elas são bem conhecidas pelos profissionais da comunicação: é um tipo de reunião em que vários colaboradores dos diferentes departamentos se unem para apresentar soluções para determinado problema, até mesmo o de um cliente. Empresas que realizam reuniões de brainstorm saem na frente da concorrência, pois trazem visões diferentes para tentar resolver uma única questão.

Não esconder os problemas da empresa

Se a empresa quer avançar com a ajuda do crowdsourcing, ela precisa, antes de tudo, afirmar para seus colaboradores ou para seu público: “Ei, temos um problema aqui”. Mas por que isso é tão importante?

Porque quanto mais pessoas de culturas e visões diferentes estiverem focadas na busca de uma solução, melhor para o crescimento da empresa. E isso só é possível abrindo o jogo. Imagine se o governo britânico, lá no século XVIII, não tivesse tornado a público o fato de que estavam com problemas na navegação? O relojoeiro John Harrison provavelmente não saberia e, com sua visão simples e diferente, não teria oferecido a solução (mesmo tendo sido perseguido na época por cientistas rivais, que também estavam tentando encontrar alguma solução).

Agora que você já sabe o que é crowdsourcing, sua importância dentro desse cenário cada vez mais competitivo e como implementá-lo dentro da rotina corporativa, comece agora mesmo a criar essa verdadeira fábrica de ideias e colaboração em seus negócios. Se o processo for feito com planejamento, a sua marca terá excelentes índices de engajamento e fidelização.

E então, ficou com alguma dúvida sobre esse tema ou quer compartilhar a sua experiência conosco sobre a criação de uma cultura de crowdsourcing no ambiente empresarial? Deixe o seu comentário e até a próxima.

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