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Inovações boas que desaparecem e Inovações ruins que são disseminadas

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Inovações boas que desaparecem e Inovações ruins que são disseminadas

Nem toda inovação é boa. Algumas inovações ruins são adotadas ao mesmo tempo que boas inovações podem desaparecer.

As inovações ruins que são adotadas podem levar a empresa e a sociedade a implementar métodos menos eficientes.

As inovações boas que desaparecem poderiam ter um impacto muito maior se implementadas.

Este efeito de implementar inovações menos eficientes e deixar de lado aquelas com maior potencial pode ser chamado de novidades e modismos. Estas novidades e modismos fazem com que a inovação seja avaliada menos em relação a critérios de eficiência e leve em consideração variáveis não relacionadas ao seu resultado e impacto para quem a adota.

Será que você ou sua empresa estão apostando em ideias ruins enquanto deixam de lado as boas ideias? Aquelas que poderiam realmente revolucionar o mercado?

First things first

Nos tempos atuais já está mais claro para a maioria das pessoas que os indivíduos possuem uma racionalidade limitada, ou seja, temos dificuldade de analisar todas as alternativas na hora de tomar uma decisão (March e Simon, 1958).

Essa incapacidade faz com que não seja possível considerar todas as variáveis, impossibilita calcular todas as possíveis consequências, e dificulta a escolha de alternativas que maximizem ações suficientemente satisfatórias.

Um dos melhores exemplos sobre esta racionalidade limitada são os mercados. Enquanto alguns acreditam que os mercados podem se autorregular e alcançar a eficiência ou até mesmo um equilíbrio, a verdade é que os mercados são influenciados por pessoas, quase sempre com vieses, interesses pessoais, e a incapacidade de tomar decisões levando em consideração todas as variáveis.

Daniel Kahneman é ganhador do prêmio Nobel de economia e um dos principais estudiosos da economia comportamental. Em seu livro Rápido e Devagar, Kahneman explica que nossas decisões são tomadas com base em dois sistemas, um rápido e intuitivo e outro lento, que é mais deliberado e lógico.

O impacto das estratégias corporativas, a dificuldade de prever o que nos fará feliz no futuro, os vieses cognitivos desde tomar decisões de investimento até planejar nossa próxima viagem são afetados por como os sistemas rápido e o sistema devagar funcionam.

Estes sistemas, assim como o conjunto de fatores psicológicos, sociais, cognitivos, emocionais e econômicos afetam nossa capacidade de sermos 100% racionais, o que nos leva ao tema anterior. Algumas boas inovações serão descartadas e algumas inovações ruins serão adotadas.

Evitando o viés pró-inovação

Sabendo que nem toda inovação é boa e algumas inovações ruins que não são adotadas poderiam ser eficientes, agora precisamos descobrir como identificar a inovação real das “novidades” e dos “modismos”.

O primeiro passo é superar o viés pró-inovação, que é o pressuposto de que toda inovação irá beneficiar a organização.

Um segundo pressuposto seria acreditar que a inovação boa irá ser adotada porque beneficia a organização, enquanto a inovação ruim vai desaparecer porque ela não traz nenhum benefício para a empresa.

Estes pressupostos existem porque acreditamos que: a) as organizações podem livremente e independentemente escolher e adotar uma tecnologia; e b) as organizações estão relativamente certas sobre seus objetivos e sobre sua avaliação de quão eficiente uma tecnologia será em ajudar a alcançar estes objetivos.

O problema com estas afirmações é que já sabemos que pessoas e organizações não conseguem ser plenamente racionais e lógicas e por isso que más decisões são tomadas pelas empresas, mesmo quando um grupo grande de decisores está envolvido.

Contra suposições

As contra suposições podem nos ajudar a pensar de forma diferente e derrubar os pressupostos levantados anteriormente.

A primeira afirmação que vimos, estabelece que as empresas podem livremente e independentemente escolher e adotar tecnologias. A contra suposição é que as organizações são influenciadas por diferentes atores externos a ela, como por funcionários com maior poder de influência, por regulamentações, empresas de consultoria, investidores, clientes, fornecedores, entre outros atores.

A segunda afirmação que fizemos está dividida em duas partes, a primeira é a de que as empresas possuem objetivos claros e bem definidos. Isto não poderia estar mais longe da verdade, cada vez mais as empresas precisam ser flexíveis, pois atuam em mercados com alto grau de incerteza, um planejamento de cinco anos deve ser modificado anualmente, pois a instabilidade pode indicar que os objetivos antes bem definidos e claros precisam ser rearranjados.

Já a segunda parte estabelece que as empresas conseguem avaliar o quão eficiente é uma nova tecnologia. Novamente temos um pressuposto que não pode ser confirmado facilmente, em muitos casos é difícil mensurar os benefícios e resultados esperados para uma inovação, e os riscos são maiores.

As empresas podem ter dificuldade em acessar a eficiência da tecnologia, podem não ter objetivos claros e sem vieses, e podem adotar inovações tentando imitar outras empresas na esperança de que as outras empresas já tenham mensurado de maneira adequada a eficiência da nova tecnologia.

Os pressupostos e contra suposições nos levam ao desenvolvimento de diferentes perspectivas sobre a inovação e a adoção de novas tecnologias, sejam elas eficientes ou não.

 

Dimensão da Imitação

O processo de imitação não tem influência sobre a adoção de tecnologias

O processo de imitação tem influência sobre a adoção de tecnologias
Dimensão da Influência Externa

A adoção de tecnologia é influenciada apenas pela organização

Perspectiva da Escolha Eficiente

Perspectiva da Novidade

A adoção de tecnologia é influenciada por atores externos a organização Perspectiva da Seleção Forçada

Perspectiva do Modismo

 

Perspectiva da Escolha Eficiente

Quando uma empresa adota uma tecnologia e isso faz com que ela desenvolva uma vantagem competitiva sobre os demais, pode ser que as outras empresas também adotem esta tecnologia como forma de eliminar o gap competitivo que a primeira organização possuía.

A automação das linhas de produção já é uma tecnologia corrente, porém as empresas em uma indústria que adotam primeiro, conseguem uma vantagem competitiva temporária, pelo menos até que as demais empresas do setor comecem a adotar a mesma tecnologia.

Ao mesmo tempo, se o gap que precisa ser fechado não puder ser reduzido através da adoção da tecnologia, então as empresas vão decidir não adotar a inovação.

Em empresas de um mesmo setor, com objetivos similares, a perspectiva da escolha eficiente será utilizada para eliminar as vantagens competitivas temporárias geradas pelas organizações.

Esta imitação leva a adoção de tecnologias ineficientes e possível rejeição de tecnologias melhores.

Perspectiva da Seleção Forçada

Esta perspectiva indica que a adoção da tecnologia é influenciada por atores externos, como por exemplo agentes reguladores.

Diversas empresas precisam implementar estações de tratamento de efluentes para evitar a contaminação do meio ambiente. Este é apenas um dos exemplos onde as empresas devem adotar uma tecnologia para entrar em conformidade com a lei e manterem sua operação.

Da mesma forma estes grupos podem gerar algum tipo de lobby para que uma tecnologia seja ou não implementada. Estes grupos podem ser de qualquer setor. Empresas podem fazer lobby para evitar a difusão dos carros elétricos. Sindicatos podem forçar empresas a manter funcionários e reduzir a quantidade de robôs operando as linhas de produção.

Claramente existem forças que impedem que tecnologias, possivelmente mais eficientes, se difundam. A demanda por uma adoção forçada leva ao uso de tecnologias ineficientes e possível rejeição de tecnologias melhores.

Perspectiva do Modismo

No modismo as tecnologias são adotadas por imitação e influenciadas por agentes externos a organização. Esta perspectiva implica em identificar em menor grau qual tecnologia adotar e mais em qual instituição imitar. Isso se deve a grande incerteza em relação as ameaças externas, objetivos e eficiência técnica.

O modismo é criado por instituições que são consideradas referências em suas áreas de atuação. E sua atuação não ocorre pela força, mas pela influência que possuem e no argumento de que as opções tecnológicas que adotam são o estado da arte ou de referência no mercado.

Ao mesmo tempo que as inovações são adotadas pelo modismo, elas também perdem seu status de inovadoras e podem ser descartadas na busca por outras inovações que estejam na “moda”.

O modismo faz com que tecnologias ineficientes sejam adotadas e que tecnologias eficientes sejam rejeitadas.

Perspectiva da Novidade

Esta perspectiva assume que a difusão da tecnologia ocorre sob condições de incerteza, mas que o principal fator da adoção de tecnologias está relacionado a imitação por parte da organização.

A imitação pode ser resultado da comunicação do conhecimento, interação social ou interesses econômicos. Conforme o conhecimento sobre uma inovação e seus resultados se torna claro as organizações podem tomar uma decisão mais informada.

Outra explicação é que as organizações imitam umas as outras buscando se legitimar, ou seja, se tornarem aceitas em um determinado setor através da imitação de instituições que já possuem renome e legitimidade.

Por fim a imitação na implementação de novas tecnologias tem como objetivo evitar que a organização concorrente adquira uma vantagem competitiva sobre a primeira, vantagem esta que será mais difícil de superar no futuro.

Todos estes graus de imitações variam com a pressão que as organizações sofrem para imitar as outras dentro e fora de seu setor de atuação. Estes graus de pressão podem atuar tanto de forma positiva quanto negativa.

Se a pressão for grande e todas as empresas adotarem uma tecnologia eficiente isso pode ser positivo para todas as organizações atuantes no setor. No entanto se a pressão for baixa, e as empresas entenderem que devem implementar tecnologias alternativas para se diferenciarem, então podem acabar por escolher tecnologias ineficientes individualmente.

Hora da Decisão

Agora que você compreende que diferentes dimensões podem fazer com que as inovações ruins sejam adotadas e as eficientes rejeitadas, é preciso tomar uma decisão de como proceder.

Embora a compreensão destas dimensões possa ser simples, tomar uma decisão de qual inovação adotar nem sempre é fácil.

Só porque você está imitando uma outra empresa na utilização de uma nova tecnologia, não quer dizer que esta seja a melhor opção, mas a adoção da novidade ou do modismo pode ajudar sua empresa a pensar nesta tecnologia e quem sabe encontrar uma outra mais eficiente.

Da mesma forma, só porque uma nova tecnologia está sendo adotada por exigências externas, não quer dizer que ela seja ruim para a sua empresa, ela pode se apresentar eficiente e um fator de vantagem competitiva para a sua organização, como podemos citar o caso da ISO 9000, que embora criticada por alguns, fez muitas empresas aprimorarem seus processos e garantirem grandes clientes.

Conhecimento é Fundamental

Embora muitos dos vieses da adoção de novas tecnologias e inovações sejam difíceis de se superar, se manter informado sobre o maior número de alternativas, tecnologias, ideias e conhecimentos práticos e teóricos pode lhe ajudar a evitar algumas armadilhas da adoção ou rejeição da inovação.

Continue estudando, o conhecimento acadêmico pode garantir que você está conectado com professores e estudiosos que constantemente estão na vanguarda do conhecimento científico em diferentes áreas da ciência.

Networking, mantenha diferentes círculos ativos e seja participante de eventos, encontros, palestras e seminários com diferentes atores dentro e fora da sua indústria de atuação. Muitas tecnologias podem ser adotadas entre diferentes setores e podem garantir não apenas conhecimento, mas o próximo diferencial competitivo da sua organização. Não é raro encontrar empresas que foram superadas do dia para a noite porque estavam focados demais no seu setor e não perceberam que a tecnologia que iria revolucionar sua indústria estava um pouco mais ao lado (para citar apenas alguns: câmera digital, iTunes, Netflix).

Experimente, parte do processo de inovação e de entender o que funciona ou não passa por colocar as ideias em funcionamento. Algumas inovações podem ser mais caras do que outras, mas é sempre importante testar, rodar uma prova de conceito, desenvolver um produto minimamente viável. A inovação ao acaso, se é que existe, não é a regra, o que é comum é a inovação fruto de muita pesquisa, desenvolvimento e trabalho duro.

Qual inovação não deu certo?

Geralmente ouvimos histórias de inovações que deram certo (Uber, Netshoes, Amazon), mas e aquelas que não deram certo.

Coloque nos comentários uma inovação, da sua empresa ou de outra, que você acha que não deveria ter sido adotada e quais boas ideias que foram parar na gaveta?

 

Texto baseado em: (Abrahamson, 1991)

ABRAHAMSON, E. Managerial Fads and Fashions: The Diffusion and Rejection of Innovations. The Academy of Management Review, v. 16, n. 3, p. 586, 1991.