Home Administração Desenvolvimento Sustentável Corporativo e o futuro das organizações

Desenvolvimento Sustentável Corporativo e o futuro das organizações

0
Desenvolvimento Sustentável Corporativo e o futuro das organizações

Não importa se você faz pelo meio ambiente ou pelo dinheiro, apenas faça.

O desenvolvimento sustentável de uma organização pode ser um tema corrente em alguns meios, mas em outros ele ainda sofre algum tipo de retaliação sem ao menos ser completamente compreendido.

Para que não cometamos este erro o primeiro passo é entender o que exatamente é o desenvolvimento sustentável corporativo para depois compreendermos como ele afeta as pequenas, médias e grandes corporações, além das empresas nascentes e aquelas que estão encerrando suas atividades por não se preocuparem com este tópico.

O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende as necessidades da sociedade no presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras em atender suas próprias necessidades.

Parece simples de compreender, mas precisamos ir um pouco mais fundo no que exatamente são estas necessidades, e para isso devemos compreender os 3 princípios que fundamentam o desenvolvimento sustentável, que são a integridade do meio-ambiente, a prosperidade econômica e a igualdade social. Para que exista desenvolvimento sustentável é preciso que estes 3 princípios ocorram simultaneamente.

A integridade ao meio-ambiente implica garantir que as atividades realizadas pelos seres humanos não destruam a terra, ar e a água. Isso porque os ecossistemas possuem um limite de capacidade para se regenerar.

A igualdade social implica que todos os membros da sociedade têm igual acesso aos recursos e as oportunidades. A necessidade da sociedade não implica apenas naquelas básicas, como comida, roupas e moradia, mas também boa qualidade de vida, como saúde, educação e liberdade política.

Por fim a prosperidade econômica promove a qualidade de vida através da capacidade produtiva das organizações e indivíduos da sociedade. Esta prosperidade vai ajudar na criação e distribuição de bens e serviços que vão aumentar o padrão de vida das pessoas ao redor do mundo.

Estes princípios servem como base para as nações pensarem e criarem políticas que fomentem o desenvolvimento sustentável de todo o país, mas como ficam as organizações que também devem pensar no seu desenvolvimento sustentável?

Desenvolvimento Sustentável Corporativo

As organizações devem aplicar estes princípios aos seus produtos, políticas e práticas com o objetivo de expressarem seu desenvolvimento sustentável. Contudo estes princípios devem ser repensados para atender as demandas organizacionais.

Integridade do meio-ambiente através da Gestão Corporativa do Meio-Ambiente

A Gestão Corporativa do Meio-Ambiente é um esforço realizado pelas empresas para reduzir o tamanho da sua pegada ecológica. Toda empresa tem um impacto ambiental, seja por acender as luzes do escritório, pelo óleo de corte do processo produtivo, da matéria-prima usada e desperdiçada ou da energia comprada e consumida dentro da organização.

Do ponto de vista ambiental, legal e até ético a empresa deve ter consciência e reduzir sua pegada ecológica no planeta, mas não é sobre isso que vamos falar quando abordamos a integridade ambiental da empresa, mas nos benefícios que ela pode colher ao buscar a redução de sua pegada.

Através da melhoria contínua a empresa consegue identificar ineficiências e melhorar seus processos. Com uma empresa mais eficiente, se gera economia, se gastam menos consumíveis na produção, a empresa gera menos lixo e desperdício, os produtos podem usar menos material.

Temos então que uma melhor Gestão Corporativa do Meio-Ambiente, permite que a organização reduza seus custos, seja nos processos, produtos ou custos fixos organizacionais, que no final representam um aumento na margem de lucro e aumento da performance organizacional, garantindo um melhor desenvolvimento sustentável corporativo.

Igualdade social através da Responsabilidade Social Corporativa

A responsabilidade social corporativa leva em consideração todas as partes interessadas (stakeholders) nas atividades da organização. Primeiro é necessário compreender quem são as partes interessadas, que podem envolver os acionistas, que ganham com o crescimento da empresa, os funcionários, que recebem salários e benefícios, os clientes, que compram e usam os produtos e serviços da empresa, a sociedade, que sofre os impactos positivos e negativos das atividades da empresa, o governo, que ganha com os impostos gerados pelas atividades diretas e indiretas da organização, os fornecedores, que são pagos por seus produtos e serviços à empresa, assim como outras partes interessadas que podem ser influenciadas pelas atividades da organização.

A responsabilidade social corporativa demanda que a empresa abrace a expectativa das partes interessadas nos níveis econômico, legal, ético e discricionário, e envolve três processos, a avaliação ambiental, a gestão das partes interessadas e a gestão das questões sociais.

Estes processos são importantes por diferentes fatores. A avaliação do ambiente permite a empresa identificar questões sociais, econômicas e ambientais e responder rapidamente a elas, ao invés de esperar os resultados destes eventos e sofrer consequências em função de não se preparar previamente.

Através da gestão das partes interessadas a empresa responde aos indivíduos dentro e fora da organização. A gestão destas partes permite a empresa desenvolver relacionamentos valiosos que contribuem com as atividades organizacionais. Empresas que não compreendem as demandas das partes interessadas, além de perder a oportunidade de desenvolver relacionamentos frutíferos, correm o risco de denegrirem sua própria imagem e não terem como reverter a opinião por não estarem abertas a dialogar ou se relacionar.

Temos também a gestão das questões sociais, que envolvem as decisões de, por exemplo, não empregar crianças, não usar trabalho escravo, não fabricar produtos ilícitos e não se envolver com parceiros sem ética.

Em alguns casos estes processos podem parecer duvidosos dependendo das práticas correntes utilizadas em algumas culturas, mas para uma empresa que pretende se manter viva ao longo de muitos anos, deve evitar práticas que vão colocar a integridade corporativa sob risco grave.

Prosperidade econômica através da Criação de Valor

As empresas criam valor através dos bens e serviços que produzem. A organização vai aumentar o valor melhorando a eficiência destes bens e serviços e vai criar valor produzindo produtos e serviços novos ou diferenciados que são desejados pelos consumidores, e reduzindo seus custos ou melhorando sua eficiência produtiva.

Quanto mais valor a empresa cria para o cliente, maiores as chances de os clientes desejarem seus produtos e serviços ao invés daqueles dos concorrentes. Quanto mais valor a empresa cria para ela, maior será sua performance financeira, ou seja, maior o seu lucro.

O que a empresa ganha com isso?

Agora que temos um entendimento mais completo e claro do que é e quais fatores contemplam o Desenvolvimento Sustentável Corporativo é preciso deixar claro o que a empresa ganha com isso.

Através do que foi abordado temos três fatores centrais do Desenvolvimento Sustentável Corporativo.

No fator da Gestão Corporativa do Ambiente, a empresa está preocupada com sua pegada ambiental e com isso melhora sua eficiência, obtendo como resultado menores custos, menos gasto e desperdício e, consequentemente, maior margem de lucro.

O segundo fato é a Responsabilidade Social Corporativa, que não tem um impacto financeiro direto, mas que se não for uma preocupação organizacional aumentam significativamente os riscos à empresa e a sua sobrevivência no médio e longo prazo.

Uma empresa que não se preocupa com as demais partes envolvidas, não age com ética e compromete as partes interessadas, sejam clientes, fornecedores, governo, sociedade, funcionários, entre outros, tem seus dias contados.

O último fator envolve a criação de valor, uma empresa deve criar valor para ela e para os outros. Uma empresa que busca apenas criar valor para ela, não melhorar, não inovar, não criar valor para o cliente, que é o principal stakeholder, corre o risco de se tornar irrelevante no mercado.

Uma organização que cria valor apenas para o cliente, acaba não gerando valor para ela, não consegue cumprir com suas obrigações, como pagamento de fornecedores, impostos e salários. Isso significa que a empresa deve buscar um equilíbrio e criar valor para todas as partes interessadas que podem impactar nas suas operações atuais e futuras.

Pensar no meio-ambiente garante um retorno econômico.

Diversos estudos têm indicado que as empresas, através de seus gestores, costumam ficar surpresos que existam recompensas financeiras através das atividades de gestão do meio-ambiente (Cairncross, 1995; Schmidheiny, 1992).

Esta surpresa pode não parecer óbvia a primeira vista, mas ganha força quando observamos a dificuldade que os gestores, de diversos níveis tem em aceitar que a gestão do meio-ambiente seja uma prioridade em suas organizações, não por suas falas e sim por suas ações, ou pela falta delas.

E como podemos então persuadir os indivíduos no mundo real a agirem em prol do interesse comum? A resposta está parcialmente na educação, no desenvolvimento institucional e nas leis.

Isso significa que com o tempo as pessoas, através da sua educação, vão compreender melhor a necessidade do desenvolvimento sustentável, criando pressões sobre toda a sociedade. O desenvolvimento institucional implica que a sociedade como um todo vai atuar como função social e moldar o comportamento dos indivíduos em prol do desenvolvimento sustentável, e por fim as leis vão regular de maneira mais clara e específica com o objetivo de garantir tanto o desenvolvimento econômico quanto a proteção do meio-ambiente.

Qual o impacto do desenvolvimento sustentável para a inovação?

O mundo atual tem colocado um grande foco na inovação como motor do desenvolvimento econômico de um país ou região, contudo podemos claramente diferenciar o que são inovações que não contribuem com o desenvolvimento sustentável daquelas que contribuem.

Lançar um novo modelo de carro, com um design mais atrativo para o público consumidor, pode contribuir para o desenvolvimento econômico se ele alcançar as metas de vendas. Contudo, se ele não agrega valor ao desenvolvimento sustentável está contribuindo negativamente com a sociedade.

Já um carro que é lançado com um novo motor que promete um consumo 20% menor de combustível, além de contribuir com o desenvolvimento econômico também se percebe claramente sua preocupação com o desenvolvimento sustentável.

Uma TV com sistema inovador de imagem não adiciona em nada ao desenvolvimento sustentável, mas uma TV que consome menos energia tem grande potencial de gerar desenvolvimento econômico e sustentável.

Para as empresas que se preocupam com a inovação, o foco deve mudar do mercado consumidor e seus desejos e necessidades supérfluas, para o desenvolvimento de inovação com potencial de garantir o desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo.

As empresas que agirem hoje com foco na inovação que garante um maior desenvolvimento sustentável estará mais preparada para lidar com as gerações do futuro que vão ter menos preocupação com o estilo de vida consumista atual e uma preocupação maior com sua pegada ecológica sobre o planeta.

Já as organizações que não mudarem seu foco podem não conseguir mudar sua estratégia a tempo para atender este novo mercado que surge rapidamente e que será a derrocada de várias empresas despreparadas e o possível nascimento de organizações com foco em um desenvolvimento sustentável.

Essa nova visão de mundo implica em compreender que a inovação nem sempre é algo bom, mas sim dependente do produto, serviço ou tecnologia inovadora que está sendo desenvolvida.

 

Será que o seu produto inovador está realmente atendendo as necessidades de desenvolvimento sustentável do presente e das gerações futuras ou ela não agrega valor real a sociedade?

 

Texto baseado em (Bansal, 2005; WCED, 1987)

BANSAL, P. Evolving sustainably: A longitudinal study of corporate sustainable development. Strategic Management Journal, v. 26, n. 3, p. 197–218, 2005.

WCED. Our Common Future, Chapter 2: Towards Sustainable Development. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. Acesso em: 7 ago. 2019.