Um Hub pode ser definido como um centro importante para uma determinada atividade. Vamos ver alguns exemplos para deixar claro.
Um aeroporto se torna um Hub quando ele se torna um centro de operações de voos comerciais.
Em informática, um Hub é um concentrador, que distribui ou por onde passam todos os dados.
Paris é um Hub quando se fala em moda e estilo.
O Vale do Silício é um Hub de empreendedorismo e inovação.
Com estes exemplos, podemos entender que um Hub é um centro, geralmente físico, onde uma atividade o caracteriza por sua importância e relevância a nível local, nacional ou mundial.
Hubs de Inovação
No Brasil existe uma tendência de grandes empresas investirem em Hubs de inovação e empreendedorismo, entre eles podemos citar o Cubo, Inovabra e Campus Google, para citar apenas três.
O Cubo é considerado o maior centro de empreendedorismo da América Latina, e é gerenciado pelo Banco Itaú. Este Hub está localizado na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, e conta com 14 andares em uma área total de 20 mil m².
O Inovabra é a iniciativa de Hub empreendedor do Bradesco, ele está localizado em um prédio de 10 andares com 22 mil m² na avenida Angélica, região central da capital paulista.
Por último, mas não menos importante temos o Campus Google, também localizado na cidade de São Paulo, na Rua Coronel Oscar Porto, região da Avenida Paulista. São 2.600 m² distribuído em 6 andares.
Embora estas sejam atualmente alguns dos principais Hubs de empreendedorismo, não são os únicos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Diversas cidades estão investindo em seus próprios Hubs, seja através da iniciativa pública, privada ou uma combinação de diversos atores.
O que há em comum entre os Hubs?
Grande parte dos Hubs atualmente se desenvolvem em espaços físicos, em grandes cidades, e oferecendo um conjunto diferente de serviços, como co-working, networking, eventos e a participação de uma diversidade de atores do ecossistema de inovação como startups, grandes empresas, investidores, mentores, empresários, etc.
O que não quer dizer que não exista espaço para cidades menores desenvolverem seus Hubs de empreendedorismo. Com o crescente interesse em qualidade de vida, as pessoas podem optar por buscar viver em cidades menores, contudo o que geralmente falta nas pequenas e médias cidades é um menor nível de oportunidade para estes talentos.
Cabe então políticas publicas e principalmente municipais que fomentem um ambiente e desenvolvam um ecossistema de inovação. Se tornar um Hub não tem relação com o tamanho da cidade, mas com a conexão entre talentos e inovação através de oportunidades e um ambiente propício para isso. Por esta razão que os Hubs geralmente se desenvolvem em espaços físicos.
Como já falamos, um Hub não precisa ser necessariamente um prédio, parques tecnológicos, incubadoras de empresas, distritos ou cidades inteiras, contudo o que é comum entre eles é que existe uma gestão deste Hub.
Dos Hubs para as Áreas de Inovação
Alguns dos primeiros Hubs de inovação tinham um conceito muito diferente do que se vê hoje, eles englobavam algumas empresas, geralmente em torno de uma universidade, os chamados parques tecnológicos. Porém este conceito, embora dinâmico, precisava continuar se desenvolvendo e atraindo novos atores, o que ocorre com maior dificuldade em modelos que não conseguem garantir uma oxigenação (mudança nos atores) regular dos participantes destes ecossistemas.
Por esta razão se repensou o conceito de Hub e hoje eles são vistos de maneira muito mais orgânica e, mais atualmente, chamados de ecossistemas de inovação. O que garante um escopo muito maior, mais atores participando e uma complexidade ainda maior no seu nível de gestão.
Este novo modelo não muda a importância e relevância dos modelos anteriores, porém enseja desafios diferentes. Quanto maior o ecossistema, tanto em quantidade de agentes participants, quanto em espaço físico utilizado, maior a complexidade para conectar estes atores. Eis então que surgem os distritos de inovação. O mais famoso deles é o 22@Barcelona, que contou com a revitalização de 200 hectares na área industrial de Poblenou, em Barcelona na Espanha.
Esta visão de distrito, ou como podemos chamar, área de inovação, mudou o foco da gestão de um prédio para a gestão de uma comunidade de pessoas, trabalhando na inovação. Esta inovação não se limita mais a empresas, mas passa a refletir também uma preocupação com o bem-estar da sociedade nestas regiões e seu entorno.
No Brasil podemos citar algumas destas iniciativas, que incluem o Porto Digital na cidade de Recife, o Porto Maravilha no Rio de Janeiro, o 4° Distrito na cidade de Porto Alegre e o Centro Sapiens localizado em Florianópolis.
Gestão dos Hubs
Porque estas áreas de inovação envolvem muito mais atores e causam um impacto ainda maior é que diferentes níveis de gestão precisam ser adotados, ao contrário da gestão de um Hub que se localiza em um prédio ou mesmo em um parque industrial.
Como exemplo, podemos citar a gestão:
- da rede entre as empresas, instituições e universidades
- da infraestrutura das empresas, instituições e universidades
- dos serviços para a comunidade (das pessoas que vivem e trabalham nestes espaços).
Todos estes níveis de gestão incluem desde serviços básicos como água, esgoto, telecomunicações, estacionamento, alimentação, passando pela infraestrutura subterrânea e prédios, até a gestão da comunidade, redes, valorização, estabelecimentos e serviços.
Podemos observar que a gestão de uma área de inovação se tornar extremamente complexa e não pode ser feita sem a contribuições de diferentes atores deste ecossistema.
Enquanto algumas atividades serão de um único ator, como por exemplo fornecer uma rede de água é de responsabilidade da prefeitura da cidade, outras atividades devem ser realizadas através de um ator com grande força ou em conjunto.
Um modelo sugerido por Dinteren, Tait e Werner (2017) apresenta elementos que devem ser considerado no momento de se pensar em uma estrutura de governança para as áreas de inovação.
Neste modelo os autores entendem que existe uma diferença entre o espaço físico (marrom) e o espaço socioeconômico (azul). Contudo, todas a gestão do ecossistema deve ter como ponto de partida um comitê de supervisão que irá criar uma visão e a estratégia do ecossistema e delegar sua operação para os diversos envolvidos.
Este comitê deve possibilitar a participação de diferentes dimensões da hélice quíntupla, sendo elas as empresas, governo, universidades, sociedade e meio-ambiente, sendo este último um ator não ativo, mas que deve ser levado em consideração nas decisões dos demais membros atuantes.
Méritos
Os Hubs de inovação, sejam eles constituídos em um prédio como o caso do Cubo ou do Inovabra, ou então em regiões como o Vale do Silício ou o 22@Barcelona podem permitir o desenvolvimento tanto local e de todas as regiões no entorno destes Hubs, quanto aumentar significativamente a competitividade nacional a medida que novas inovações são geradas nestes ambientes e comercializadas por todo o planeta.
Os modelos de ecossistemas de inovação que utilizam a hélice quíntupla permitem envolver todos os atores que podem ser impactados e contribuir com o ecossistema. Esta visão holística permite criar um senso de comunidade ainda maior, fazendo com que todos se sintam parte deste ambiente e atuem no fomento e desenvolvimento da região.
Os benefícios do modelo de ecossistema de inovação podem ser distribuídos entre todos os atores, fazendo com que a criação de valor seja gerada e distribuída em conjunto.
Apesar de todos estes méritos, o modelo não é perfeito e precisa ser constantemente aprimorado, principalmente em termos de sua gestão e de seu impacto em toda a comunidade local e adjacente.
Desafios
Como foi dito, os Hubs de inovação cada vez mais ganham relevância quando falamos em ecossistemas de inovação e ecossistemas empreendedores, diversas evidências indicam que existe grande concentração de riqueza nestes Hubs e que eles inclusive, são mais resistentes a crises. Por esta razão as cidades estão buscando desenvolver seus Hubs e se tornarem áreas de inovação.
Esta concentração de riqueza gera diversos problemas, como alta valorização imobiliária, valores de aluguel muito altos e possível aumento da desigualdade de renda.
Atualmente o Vale do Silício tem um dos metros quadrado mais caros dos Estados Unidos, com casas sendo vendidas a um preço médio de US$ 1,2 milhões.
Embora esta seja uma das regiões que mais gera riqueza no país, esta riqueza não é igualmente distribuída. No distrito de Santa Clara, 18,7% da população não consegue atender as suas necessidades básicas sem assistência financeira, sendo que 2% das pessoas que vivem no Vale do Silício controlam 27% da riqueza gerada.
Entre 2017 e 2019 mais pessoas estão deixando o Vale do Silício do que estão chegando. Existe claramente uma debandada de talentos, e independente dos fatores que levam a este êxodo, podemos perceber a falha no modelo atual de Hub de inovação de manter o seu crescimento.
O resultado deste movimento ainda teremos que esperar para ver, mas para os novos Hubs que estão surgindo, #ficaadica para pensar se o modelo de Hub ou de área de inovação não está focado na geração de riqueza que vai ficar nas mãos de poucos ao invés de uma distribuição de valor para todos os atores, dentro e adjacentes ao ecossistema de inovação.
Conclusões Finais
Hubs, áreas de inovação, ecossistemas empreendedores, entre outras iniciativas tem grande potencial de gerar riqueza para as comunidades locais, regional e nacional, contudo, temos que sempre avaliar como esta riqueza está sendo distribuída.
O envolvimento dos diversos atores no processo de criação destes espaços deve possibilitar um processo de decisão e desenvolvimento conjunto que fortaleça os laços da comunidade. Tanto os impactos quanto os benefícios devem ser igualitariamente distribuídos para que seja possível gerar, além de riqueza, um bem-estar social e aumento na qualidade de vida da população.
Se você tem dúvidas sobre estas iniciativas, sempre é importante questionar, mas para isso é preciso fazer parte, se envolver, aprender e ensinar.
Qual a sua experiência com Hubs ou áreas de inovação, existe potencial? E quais os riscos envolvidos?
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