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O Paradoxo da Inovação

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O Paradoxo da Inovação

Quanto mais você inova, mais difícil pode ser inovar.

A inovação pode ser considerado um pré-requisito para qualquer organização que deseje se manter no mercado e relevante frente aos seus clientes. Mas mesmo para as empresas mais bem sucedidas em termos de inovação, se manter inovadora pode ser um desafio ainda maior.

Quando uma empresa, que vamos chamar aqui de tradicional – aquela que possui um produto ou serviço consolidado, um processo bem definido e entrega valor para toda a sua cadeia – se encontra estabelecida, ela possui recursos e atividades com as quais ela se comprometeu para poder entregar valor para os clientes.

Se ela inovar MUITO, ela pode deixar de entregar valor para aquele tipo de cliente e começar a atender outro público. Embora na teoria este pareça ser um caminho natural e simples do ponto de vista de alguns, afinal de contas, em um negócio que não está dando certo, nada melhor que mudar de direção para outra mais atrativa, esta pode não ser uma estratégia factível.

Uma empresa tradicional e estabelecida, possui acordos que precisa cumprir, seja com clientes, fornecedores, funcionário, governo, etc. Cessar completamente suas atividades em um ramo e redirecionar completamente seu mercado pode ser difícil, para não dizer impossível.

Começando pelos recursos necessários para atuar em uma indústria que podem ser completamente diferentes em outras. A mão-de-obra especializada para fabricar um automóvel é muito diferente daquela necessária para produzir um avião, embora ambos estejam produzindo veículos para transporte.

Nokia vs Apple

Em 2007 a Nokia possuía mais de 50% do mercado global de celulares. Coincidentemente em 29 de junho de 2007 a Apple lançou o iPhone e desde então a Nokia só tem perdido mercado e em 2019 possuía apenas 1% do mercado global. A título de conhecimento, a líder atual é a Samsung com 20,6% do mercado com a Huawei em segundo com 17,6%.

Na época a Nokia possuía centros de pesquisa e desenvolvimento na Finlândia, nos Estados Unidos e em outros locais e com certeza não foi a falta de dinheiro que levou ela de sua posição em 2007 para sua posição em 2019 no mercado global.

Alguns podem dizer que ela não previu a mudança, mas a verdade é que a mudança pode ser feita, o que ocorreu é que a Nokia não conseguiu mudar suficientemente rápido. Ela possui dinheiro para adquirir as tecnologias, mas dinheiro não é a solução para tudo.

Mudar o produto, os processos, o valor, são mais difíceis do que parece, pois a Nokia já havia se comprometido com fornecedores, clientes que estavam esperando uma nova entrega de celulares, pessoas com expectativa de comprar um celular com baixo custo e altamente confiável. Você como CEO da Nokia, teria coragem de fechar a sua fábrica, não honrar seus compromissos, demitir funcionário e colocar todo este dinheiro em montar um novo negócio?

Talvez seja fácil de pensar que sim depois do desenrolar dos eventos, então vamos tornar isso mais difícil.

Você seria capaz de fechar a sua empresa, não honrar os compromissos com os clientes, deixar fornecedores na mão e demitir todos os funcionários para implementar um novo modelo de negócio?

Tenho dificuldade para acreditar que você respondeu que sim. Contudo é perfeitamente compreensível o porquê isso não ocorre. As empresas desenvolvem competências e adquirem recursos para atender um determinado grupo de stakeholders, deixar as partes interessadas sem retorno de uma hora para a outra não parece algo que qualquer proprietário ou CEO de uma empresa faria.

Capacidades Dinâmicas

Eis que surgem as capacidades dinâmicas para tentar ajudar você a repensar como lidar com este problema.

A lógica por trás das capacidades dinâmicas é bastante simples. Você deve desenvolver capacidades que permitam que você mude rapidamente. Estas capacidades vão permitir que sua empresa sobreviva ao longo do tempo, pois quando for necessário e a mudança for eminente sua empresa, assim como seus recursos físicos, financeiros e de pessoas estarão preparadas para acompanhar você nesta mudança.

Na prática é bem mais complicado do que isso. As capacidades dinâmicas podem ser enfraquecidas se você, ou sua empresa, não conseguir: fazer um diagnóstico adequado das oportunidades e vulnerabilidades competitivas, for negligente, tiver dificuldade de realizar uma reestruturação, e outros erros de gestão (Teece, 2017).

Neste caso o erro está sempre nas mãos dos gestores, e não deveria ser diferente, são eles que tem o poder e o dever de garantir que suas empresas estão desenvolvendo capacidades dinâmicas que serão necessárias na hora de mudar.

Desenvolver capacidades dinâmicas melhora a sobrevivência da empresa, mas não elimina a necessidade de tomar uma única decisão difícil quando a mudança se fizer presente: Vamos realmente deixar todas as partes interessadas na mão e perseguir esta outra direção?

O Paradoxo da Inovação

Inovação, a palavra do momento, e não me entenda errado, ela é muito importante, mas não é garantia para a sobrevivência da sua organização, principalmente se ela não ocorrer de forma continuada, mas é aí que surge o paradoxo da inovação.

São as startups, com seus orçamentos mínimos que conseguem se manter inovadoras, pelo menos até começarem a crescer e ganhar excelência operacional. É neste momento que a disrupção começa a diminuir.

Em outros palavras, quanto mais você inova, mais difícil fica de desenvolver a próxima inovação. Não apenas em termos de conseguir uma boa ideia, mas porque existem investimentos financeiros em pesquisa, desenvolvimento, planejamento, produção, marketing, comercialização, entre outras atividades.

Estes investimentos podem se tornar receitas e faturamento para a empresa, mas também podem representar apenas aprendizado, que é quando a inovação não chega ao mercado e o que resta é o aprendizado que tivemos com este erro.

Por esta razão que diversos estudiosos e gestores dizem que uma empresa não deve competir por diferenciação de produto e ao mesmo tempo por custo baixo. Claramente seria improvável, para não dizer impossível, que alguma empresa consiga alcançar estas duas estratégias de forma adequada.

Outro problema que surge com a inovação constante e rápida é que muitas opções podem dificultar as escolhas do consumidor. Quem já tentou adquirir um computador e decidiu analisar as especificações para decidir qual comprar?

Definitivamente é uma tarefa complexa, e as vezes estressante. A diversidade de produtos pode ser bom para alguns que sabem o que estão buscando, mas para aqueles que apenas adquirir uma solução para um problema, ter várias opções pode se tornar um problema e fazer com que o consumidor pegue um atalho, comprando uma determinada marca ao invés de analisar especificações.

Para as organizações que estão tentando realizar inovações, cada nova versão tem que agregar muito valor para o cliente, o que implica em mais custos para lançar um produto ou serviço com diferencial significativo.

Como resolver este paradoxo?

A decisão sobre uma estratégia nunca será inteiramente positiva. Com toda opção estratégica estão atrelados pontos positivos e negativos.

Uma solução para os custos da inovação é utilizar o modelo de inovação aberta, ou seja, ao invés de usar apenas recursos internos da empresa, a organização passa a compartilhar recursos e investimentos com parceiros, clientes, fornecedores e até concorrentes.

O problema da inovação aberta é que ela é “aberta”, as chances de que você vá dividir os ganhos da inovação com os outros é muito grande e se sua estratégia, planejamento e acordos jurídicos não estiverem devidamente estabelecidos, pode acabar não capturando o valor que esperava para os resultados da inovação, mas isso não quer dizer que seja uma estratégia ruim, e sim que exige preparação.

Uma alternativa que as empresas têm adotado são os Hubs de inovação. Os Hubs são espaços separados da matriz e focados em inovação. Eles podem realizar inovação aberta ou fechada, mas a ideia central é ficar longe da eficiência operacional que a organização busca e focar em inovação de forma mais livre da cultura da eficiência operacional da matriz.

As empresas podem construir seus próprios hubs de inovação ou junto com outras empresas criar um hub aberto para diversos outros atores, depende muito da estratégia da empresa, seus objetivos e até da indústria onde operam.

Conforme as empresas crescem, buscam eficiência operacional e se comprometem com diversos stakeholders, perdem sua capacidade de mudar. Empresas pequenas, as chamadas Startups, por outro lado, mesmo com orçamentos limitados podem ser uma alternativa para as grandes.

Elas possuem recursos limitados, mas a capacidade de gerar ideias inovadoras, se aproximar deste tipo de organização pode se mostrar um diferencial atrativo para sua organização.

Algumas vantagens de se aproximar de Startups incluem: 1) potencial de diversificação, atuando em mercados diferentes; 2) potencial de incorporação, agregando novos produtos e serviços para a empresa com a compra da Startup ou pagamento de royalties; e 3) soluções inovadoras, que podem ser implementadas na empresa aumentando sua eficiência ou utilizadas como fonte de inspiração para você inovar na sua organização.

Fórmula para o sucesso

Não, não existe uma fórmula mágica.

O processo de inovação não é uma ciência exata e sim fruto de experimentação, você tem que testar o que funciona para a sua empresa e neste caminho de experimentos, os erros serão seu aliado, pois farão você e sua organização entender o que funciona e o que não dá certo.

Apesar de tudo, assim que você mudar de empresa, não tente levar o seu processo junto, pois ele também é dependente da empresa, cada uma vai ter que encontrar sua fórmula mágica e embora muito possa ser usado como referência, nem tudo pode ser considerado replicável.

Qual a sua estratégia de inovação? O que tem dado certo na sua organização?

Compartilhe sua experiência, tenho certeza de que podemos aprender muito com todos, em um modelo mais “aberto” de compartilhamento de conhecimento.

Referências:

TEECE, D. J. Dynamic capabilities and (digital) platform lifecycles. Advances in Strategic Management, v. 37, p. 211–225, 2017.